Sing me to sleep: prólogo

5.10.2015 | | |
Você sabe o que é suicídio? Sabe o que é acordar todos os dias pensando em mil jeitos diferentes de acabar com sua vida? Você sabe o que é olhar em volta e perceber que todo mundo estaria melhor se você não existisse? Sua mãe não reclamaria que só dorme, poderia expandir a casa e decorá-la com janelas enormes de vidro já que ''não teria crianças na casa para quebrar a janela'', ou ela poderia até mesmo comprar aquela bolsa da Louis Vuitton que ela tanto queria. E seu pai poderia comprar o carro dos seus sonhos ou fazer aquela viagem inesquecível, que ele não pode já que as contas de energia são caras porque ''não sai do computador''. Eles não reclamariam do dinheiro que gastam ''à toa'' com você e, com certeza, poderiam estar aproveitando as vidas deles, não cuidando de uma garota. Você não sabe como é estar dentro de um carro e desejar que ele capote, você não sabe o que é passar em uma ponte e desejar cair dela, você não sabe o que é subir em um prédio alto e desejar pular a grade, dar só um pequeno passo e morrer. Você não sabe o que é parar do nada porque achou que viu algum tipo de faca e desejar enfiá-la na sua barriga e assistir você mesmo desvair até a morte. Você não sabe o que é querer estar numa cama de hospital e morrer de mansinho. Não, você não sabe o que é suicídio.

Eu sei como é olhar em volta e não ter ninguém. Eu sei o que é morder os lábios com força para ver se a dor neles distrai a outra. Eu sei o que é se sentir sufocado e caindo infinitamente, sem ter algum tipo de cama elástica lá embaixo para amortecer a queda. Eu sei o que é esperar as luzes apagarem e todos estarem dormindo para deitar na cama e chorar baixinho, para ninguém escutar. Eu sei o que é sentir um nó na garganta e ter que controlá-lo até ir tomar banho, para disfarçar os soluços e o choro. Eu sei o que é sentir os olhos encherem de lágrimas e um nó na garganta e ficar com medo de não conseguir segurar o choro até chegar em casa. Eu sei o que é sentir um enorme nó na garganta, tão grande que te sufoca, te impede de fazer qualquer outra coisa, até que você cede e chora. Eu sei o que é deitar na cama, agarrar o travesseiro e chorar. Chorar tanto, tanto, até chegar a se perguntar como vai esconder aquela piscina olímpica dos seus pais. Eu sei o que é olhar no espelho e não ver nada bom. Eu sei o que é querer sumir, desaparecer. Acredite, eu sei o que é tudo isso...

Percebi que estou mais longe da superfície, agora. Eu afundei mais um pouco, ultimamente. Mas uma hora o elenco sai de cena e as cortinas se fecham. Uma hora não dá mais para esconder a tristeza com um sorriso. Porque é isso que tenho feito. Mas chega uma hora que fica complicado mascarar tanta dor e a bomba-relógio explode. Eu poderia aguentar por mais tempo, poderia aguentar mais um pouco, mas não sou forte assim, na verdade, sou demasiadamente fraca. Sei que estou afundando porque o nó na garganta e os olhos ardendo estão mais frequentes, sinto vontade de chorar por coisa nenhuma.. Ou melhor seria, por qualquer coisa? Sei lá. Só tenho vontade de desistir de tudo e de todos. Estou cansada de mentiras, fantasias e máscaras, estou cansada dessa vida e estou muito cansada de mim. Eu preciso desistir. Eu tenho que desistir. E desistir, sim, é um grande ato de bravura.

2 comentários :

  1. Ei, lhe aceitei como afiliada, seu blog já está na minha lista, ok?

    ResponderExcluir