Sing me to sleep: primeiro capítulo

5.23.2015 | | |
Happy Pills

- Não se esqueçam de fazer uma revisãozinha em casa sobre as enzimas! - a mulher gritou exageradamente de sua mesa. Os alunos imediatamente se levantaram e se dirigiram à porta, empurrando uns aos outros para conseguirem sair.
"Ir um de cada vez seria tão mais fácil...."

Pensou uma das garotas, a única que ainda estava sentada em seu lugar. O caderno e o livro ainda estavam espalhados pela mesa, juntamente com canetas e marcadores, mas ela esperou pacientemente até que todos saíssem para que arrumasse suas coisas. Ela finalmente colocou a última caneta no estojo e jogou a mochila sobre os ombros, porém antes que pudesse sair e tirar aquele peso enorme das costas, a professora chamou por ela:
- A senhorita estava muito aérea hoje. - isso nem era mais novidade, e ela dizia o mesmo todos os dias. A garota perguntou-se mentalmente se a srta. McLauren vivia algum tipo de Como se fosse a primeira vez enquanto saía da sala.
Ela terminara de guardar os livros da aula anterior em seu armário e tentava andar pelos corredores cheios, até que foi parada por Amelia.
- Aonde você pensa que vai, chamas? - a garota de cabelo cacheado sorriu ironicamente, e logo os olhares foram em direção às duas no meio do corredor - Garota, você nunca viu um espelho na vida? Não, tipo, sério... Como te deixam sair na rua? Você é tão estranha e esquisitona...
- Estamos fazendo um favor para humanidade te falando isso. - a loira ao lado de Amelia comentou.
- Isso Emily, deveriam nos agradecer. Tanto você, quanto vocês - indicou as pessoas em volta, que como bons fofoqueiros de colégio, estavam observando a situação - Você é tipo que.... - a garota alta olhou para um ponto vazio, tentando se lembrar do que iria dizer.
- Um patinho feio? - uma de suas amigas sugeriu.
- Não, Havennah, o patinho feio tem uma transformação no final. - Amelia revira os olhos, mesmo que a garota atrás dela não pudesse ver.
- Ele é um cisne, Amelia. Um cisne. - um vulto preto passa ao lado das duas mordendo sua maçã, logo sumindo na multidão sendo puxada por sua melhor amiga, antes que pudesse fazer o que quer que fosse fazer. Mas não sem antes lançar um olhar superior e desafiante a Amelia, que apenas rolou os olhos em resposta.
- Ugh, temos que arrumar um jeito de tirar você do planeta. Sua presença, por mais que insignificante, e sua feiura está desmatando as árvores. - piscou algumas vezes os enormes cílios postiços de forma inocente, seguindo seu caminho na direção oposta a dela.

''Como pessoas assim conseguem ser populares?'' a garota pensava, enquanto se desviava dos corpos suados e até fedorentos da Educação Física pelos corredores. ''Quer dizer, pelo menos os jogadores... Jogam. Eles participam dos campeonatos e tal, mas não saber a história do patinho feio é o cúmulo! Absurdo, isso.''

Ela atravessou o grande pátio principal, passando direto pelas portas duplas do refeitório com o seu novo exemplar de Under The Dome e acelerou os passos quando viu mais alguns dos populares a alguns metros dela, entrando no refeitório. Por um momento quase agredeceu àqueles desocupados por fazerem a garota se afastar e não pensar na dor aguda em suas pernas.
Embora odiasse a escola, a menina tinha que admitir. Gostava do fato de ter um tipo de "jardim suspenso" no terraço, e que o mesmo fosse revestido de grama. Mesmo que ela fosse sintética.

Ela nunca entendeu o motivo pelo qual colocariam grama sintética no terraço do colégio, mas mesmo assim, gostara daquele lugar desde a primeira vez que fora ali. A garota mudava as páginas calmamente, às vezes se distraindo com as nuvens e suas formas engraçadas passeando acima de sua cabeça. Ela nem conseguia ouvir os gritos dos jogadores do time no campo de treinamento lá embaixo, à esquerda. 

Seu corpo foi impulsionado para frente e por pouco não caiu de cara no chão. Sua visão escureceu por segundos, mas levantou e olhou na direção do campo. Os garotos e o treinador olhavam para cima, em volta do campo, tentando localizar a direção em que a bola fora arremessada. A garota abaixou rapidamente, mesmo sentindo uma sensação de vertigem e a respiração desregulada, se forçou a sair correndo escadaria abaixo. 
Eles não podiam encontrá-la ali. Mesmo porque, se soubessem o quão fantástico e bonito aquele lugar era, muitos iriam para lá - muitos casais - e ouvir o barulho de gente se devorando não é exatamente o que ela chamaria de "paz de espírito''. 

Ela previu o horário em que o sinal do fim do recreio iria tocar e se dirigiu até a sala da próxima matéria. Quando escolheu seu lugar, na fileira da parede, o sinal tocou e o resto da turma entrou, juntamente com a professora. Enquanto esta tentava ensinar a matéria da aula passada novamente, a garota analisava sua turma. Bagunceira, sem dúvida, concluiu. 
Nas aulas não existia os diversos grupos de amigos, eles ouviam música, atiravam bolinhas de papel, escreviam nos vidros das janelas e gritavam e andavam pela sala. Juntos. Era um caos. 

Eles poderiam ser convocados pelo Exército Britânico em caso de uma guerra, tão boa era sua pontaria para atirar bolinhas de papel no alvo. E, no caso, o alvo era a garota ignorando e desobedecendo o aviso da professora de ''proibido o uso de fones de ouvido e aparelhos eletrônicos''. A turma ria enquanto Emily jogava várias bolinhas seguidas nela, que abria algumas e não perdia tempo com outras. Já sabia o conteúdo daqueles ''bilhetinhos''. Amelia e suas amigas eram um pesadelo, embora apenas Emily, Havennah e Nevaeh estivessem nessa aula, as outras seguidoras eram substituídas colossalmente por Harry Styles, um de seus piores pesadelos. Daqueles que se repetem várias vezes e te atormentam até quando você não está dormindo. A professora apenas lançava olhares reprovadores para eles. Ela não tinha muita moral naquela sala para falar algo, e os diretores do colégio os cifrões que aqueles diabinhos, como eles carinhosamente os apelidaram, representavam. 

Algumas aulas depois, os talvez, 400 alunos do colégio são agraciados com o toque nem um pouco suave do sinal para a saída. A garota ouve sua playlist do dia, caminhando até seu armário enquanto tenta lembrar a senha do mesmo. A garota pega todos os livros do dia, reorganizando-os em sua mochila. Prende mais um post-it no fundo do armário, onde estão diversos deles grudados e prende a respiração quando alguém fecha a porta do seu armário com força. 

- Acho que alguém esqueceu a regra número dois, Cassie.

Ela suspirou ao girar a chave e entrar em casa, os olhos ardendo mesmo nem tendo assistido a tv. Ela vira de frente para a sala, encontrando uma mulher tentando atender uma ligação e passar máscara nos cílios ao mesmo tempo em que coloca o notebook na bolsa de couro preta. A mais nova se dá um tapa na própria testa mentalmente ao ver a situação. A mulher jogou os cabelos para trás e esticou a mão a frente, oferecendo seu cappuccino à garota, que recusou, já que não gosta da ideia de beber algo que alguém já bebeu no mesmo lugar. 

- E aí, como foi? - os olhos da mulher percorrem o rosto da menor, como se buscasse a resposta para sua pergunta nas feições da garota a alguns metros dela. 
- Hm... normal. - sibilou lentamente, apertando os olhos para a mulher. 
Ela tinha feito algo errado? Geralmente não perdia tempo com perguntas relativas, ia direto ao ponto. Principalmente em relação a ela e a escola. Não perdia tempo com informações fúteis como que aulas a garota teve no dia ou se fulano de tal ficou doente e passou mal na aula, tudo o que importava eram as notas no final dos bimestres e o comportamento dela, ambos oscilando muito pouco nos últimos... anos. 
- Sabe, hm, estão decidindo as datas da peça de primavera. Acho que vão fazer com uma nova temática esse ano, então Annabeth Lincoln foi ''demitida'' do cargo de roteirista. Ela seguia um certo padrão e os organizadores da peça queriam algo mais novo, diferente. Então acho que não irá precisar disfarçar para sair do auditório esse ano, caso vá. 
- Ah, que pena. Aquele cara era lindo! A Anna disse o quê?! Uma megera, mesmo! Ugh, sabia que aquela secretária ia causar problemas, tudo bem, tá, mas e aquela saia? Parece que ela colocou na máquina de lavar apenas para que encolhesse mais! 
A garota virou o rosto na direção da loira mexendo nos fios brilhantes e macios. Uma expressão confusa tomando forma em seu rosto, mas que logo se transformou em uma de compreensão e em seguida, de indiferença. Rolou os olhos e passou pela mulher, atravessando a sala seguindo seu caminho até o seu quarto. 

Minutos depois de tomar um banho e deixar sua mochila no quarto, a garota desce as escadas, lembrando-se de ter ouvido a porta da casa bater, um sinal de que sua mãe já tinha saído. Isso a fez suspirar instantaneamente debaixo do chuveiro. Ela liga a tv, indo para a cozinha. Levanta o copo já vazio no alto, contra a luz, observando os detalhes do cristal. Era seu quarto copo de água. Suspirou, tendo certeza de que a sensação de que um duende engolira o seu estômago e outros órgãos iria passar em questão de segundos. Encheu sua garrafinha roxa e a colocou na mesa de centro da sala, pegou seu notebook e e deitou no sofá, começando a digitar sua pesquisa no Google.

O céu já estava bastante escuro, eram por volta das quatro horas da tarde e a pele da garota estava alaranjada de um lado, refletindo a luz da geladeira aberta bem a sua frente. Sua mão repousava na porta da mesma, impedindo que fechasse pelo tempo em que estivera apenas parada, observando o interior gélido do eletrodoméstico.

Mais especificamente, os salgadinhos que sua tia Aneliese fez e que ela se recusara a comer no dia anterior, ela quase babava nos salgados quando uma ask do tumblr chega e ela sorri de lado, indo até o notebook. Agradecendo mentalmente a quem quer que fosse que tenha mandado a ask, assim ela se destraía e não pensava nos salgadinhos.


A ask era de um dos seus  "colegas" virtuais. Por ter mania de observar as pessoas, a Miller mais nova entendia um pouco sobre as pessoas, embora não andasse com muitas delas. Entendia às vezes o jeito como agiam, pensavam, o que queriam dizer com tal coisa e como se sentiam em relação a tal situação. Com isso, ela dava conselhos para seus colegas no tumblr, o que a deixou um tanto conhecida. A mensagem era de um dos mais próximos dela. Pode se dizer que ela era meio que sua melhor amiga virtual, já que parecia que o que ele contava era exatamente tudo que acontecia em sua vida, e ela meio que gostava disso. Gostava de ser o suficiente. Gostava de mesmo sendo uma "anônima" na internet, poder ser confiável o suficiente para ele revelar coisas de sua vida, por ser o suficiente para alguém, para ele.

"Você entende as pessoas bem, Milk. Mas, um de seus textos, me deixou um pouco intrigado. Ele fala que você não anda com as pessoas do colégio e não tem amigos próximos. Então... Como pode entender tanto?"

Ela pensa alguns segundos e solta um risinho fraco, digitando a resposta:

"Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço. ;p'' 
Como estava sem ter o que fazer, leu algumas ask's antigas e resolveu respondê-la, que era do mesmo remetente.
"Você disse que odeia lugares fechados e lotados. Que até poderia morrer se tivesse que ficar em um. Mas quer ir a um show?! Como pode isso, produção?"
Ela sorri de lado e aperta em "enviar".
"Na vida, precisamos escolher pelo quê vale a pena morrer. ;)"
Minutos depois, o garoto com apelido de The Biggest, se despede dela, dizendo que tem que sair.
''Tudo bem.''
''Littlest... *voz repreensora"
"Que foi?! *carinha inocente*"
Já era tarde, ela recebeu uma mensagem da mãe, dizendo que ia passar a noite na casa de umas amigas que se reuniram e só voltaria na manhã seguinte. A garota desligou o computador e subiu para o segundo quarto do corredor. Conectou o notebook ao carregador e o colocou na escrivaninha, na qual achou uma pequena cartela de comprimidos.

Sentou na poltrona, observando a pequena capsula e colocou debaixo da língua. Pegou seu copo com bico fofinho de panda e encheu com a água, tomando em seguida. Logo sentiu a visão ficando embaçada, ela olha para cima e a última coisa que vê é seu mobile tocando uma canção de ninar fofinha, girando, girando e girando...

Heeey, Fire Angels! Bem, finalmente o primeiro capítulo. Estou há dias escrevendo cenas, organizando e etc, e consegui não deixá-lo tão grande! 2.142 palavras é um grande progresso, vai! O que acharam? Eu sei que não mostra muita coisa e tals, mas primeiro capítulo só introduz a história, calmem, calmem .q Kissus. Ah, acho que hoje mesmo posto o segundo, as cenas já estão prontas, só falta revisar! 







2 comentários :

  1. Sing me to sleep me lembra um techo da música 'Asleep', do The Smiths. Não sei se você sabe, a música preferida do Charlie das As Vantagens de Ser Invisível. Amo muito o filme e o livro, choro toda vez que leio ou vejo.
    Enfim, amo pessoas com pensamentos suicidas e histórias dramáticas bem escritas como as suas ♥
    Espero que continue em breve, eu já disse o quanto sou apaixonada por personagens com pensamentos suicidas?
    -xo.

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    1. ahsuahhahs, sim. Eu amo essa música <3 Eu também, porém só vi o filme. Quero muito ver o livro n-n
      Não é?
      Toca aqui o/ me amarro em pessoas assim, na verdade, pessoas ''problemáticas'' no geral me fascinam. Awnn, obrigada. Eu fico muuito feliz de saber que gosta do jeito que escrevo. ♥
      Vou sim, falta só as falas do segundo cap. Mas já, já sai. Haha, já. Mas nunca canso de saber hu3
      xx.

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