sing me to sleep - quarto capítulo

7.22.2015 | | |
*n/a: A cena depois que a Miller sai, em itálico é em terceira pessoa, para vocês saberem o que aconteceu depois de ela ter saído.*

Dear Death

- O dinheiro está ao lado da tv. Como eu disse, estou atrasada. - disse antes de sair. Cambaleei até o banheiro e me olhei no espelho. Eu estava pálida, mas meu rosto continuava redondo como uma bola de boliche. De repente, faço uma careta.
Foi tudo um sonho?

Estranho, parecia tão... real. Mas, pelo menos o jeito que minha mãe tinha me acordado explicava o fato de ser um sonho. Oh,  e também tem toda aquela confusão com o Harry. É aquilo com certeza nunca teria acontecido. Graças às forças do Universo. Obrigado, Olimpo. Segurei minha banha da barriga. Por que diabos é tão fácil engordar e tão difícil emagrecer? Deveria ser ao contrário, não? Não dizem que perdemos tudo mais rápido do que ganhamos? Argh, odeio esse mundo confuso e suas coisas contraditórias. Tirei minha roupa e deixei-a cair no chão, girei o registro e entrei debaixo do chuveiro. Me sentia cansada, com sono... Enquanto a água quente escorria, repassei o dia de ontem mentalmente. Minha última lembrança do dia de ontem era... de que estava correndo. É, eu estava correndo e parei numa pracinha, e... e... Oh, meu Deus!

As lágrimas começaram a escorrer junto com a água no chuveiro, antes que eu pudesse impedi-las. Um soluço escapou dos meus lábios, depois outro, e mais outro, até eu estar chorando compulsivamente. Eu fraquejei. Eu acabei com tudo! Eu vou acabar ficando assim para sempre, as pessoas sempre vão fazer piadinhas sobre mim e minhas gorduras transbordantes...

- Inútil... Por que você tinha que fazer aquilo? Você é uma gulosa, fraca. Não sabe dar valor ao esforço e à determinação. Oh, Céus... Sair comendo aquela montanha de calorias e açúcar como se não houvesse amanhã. - eu resmungava para mim mesma, abraçada aos meus braços arrepiados. Desliguei o chuveiro e parei na frente do espelho, me enrolei na toalha. - Você sempre estraga tudo, Cassie. Agora ande! Pare de chorar, sua fraca! Limpe esse rosto imediatamente e recomece! - meu reflexo ordenou autoritária e eu estremeci levemente, com medo. Assenti veemente e liguei a torneira da pia com as mãos, joguei um pouco no rosto e sequei com a toalha cuidadosamente. Minhas bochechas estavam vermelhas, assim como a ponta do meu nariz, de tanto chorar. Voltei ao meu quarto e baguncei todo o guarda-roupas, procurando por minhas meias 7/8. Para meu azar no momento, eu tinha várias e as que eu queria tinham ido fazer um passeio em Nárnia.

Peguei as pretas de ursinho, revirei o quarto para achar meus Converse pretos e coloquei tudo perto da cama. Depois penteei meu cabelo e achei meu celular debaixo da cama. Abri a gaveta com minhas capinhas e coloquei a que escolhi nele. Tudo parecia estar do lado contrário hoje. Achei minha mochila e a joguei em um dos ombros, descendo as escadas e pegando a chave na mesinha de centro. Dei uma olhada na casa. Mordi o lábio ao ver algumas notas ao lado da tv, balancei a cabeça rapidamente e suspirei, saindo de casa e trancando a porta. O que comi ontem era equivalente a uns três dias.


Vi Harry e seus amigos junto com Amelia e Havennah conversando, senti o olhar de ambos, Amelia e Harry sobre mim e apertei os passos, pela primeira vez no dia agradecendo pelo pátio principal estar completamente lotado. Mas para meu azar, tínha aula de  Filosofia hoje, eu tinha Amelia, Nevaeh e Harry como "colegas de classe". Soltei um grunhido com o pensamento e cheguei ao meu armário. Escrevi algumas anotações nos meus post-it's e os colei dentro do armário, para me lembrar mais tarde. Quando estava quase saindo, lembrei que não tinha escrito minha meta de hoje e não tinha escrito um lembrete de me pesar depois da aula. ''Farmácia - remédios para dormir/ comprar uma balança. Sexta-feira: 400 k...''
- O que você 'tá fazendo? - uma voz que não soube identificar parecia estar bem atrás de mim e eu paralisei alguns segundos, com minhas mãos tremendo me virei de frente para pessoa, rasgando o papel em mil pedaços e os deixando cair nervosamente no chão ao ver os cachos que não devem ter visto um pente hoje do Styles.
- N-nada. - ele arqueou a sobrancelha e deu uma risada sarcástica.
- Você é tão patética quando está com medo, Miller. - deu seu típico sorriso medonho, mordi o interior da bochecha - Ah, é.. - fingiu um tom suave e sorriu de forma sádica - Você sente medo toda hora. - ele gargalhou.
Olhei para os lados, mas por mágica praticamente todos os alunos tinham sumido. Só tinha dois alunos distraídos ouvindo música do outro lado do extenso corredor. Engoli em seco, sentindo meus olhos arderem. Sinceramente, minha mente já faz esse serviço, Harry. Não precisa querer ocupar o lugar dela e lembrar-me disso todo maldito dia, em todo maldito segundo. Ele deu um tapa forte no armário, bem ao lado do meu, se aproximando de mim, o que me fez ter um sobressalto com sua rapidez. Soltou uma risadinha que fez eu me encolher.
- Não adianta procurar por ajuda, Cassie. Ninguém poderá te ajudar. Eu sou seu pior pesadelo. - não deveria ser normal temermos outras pessoas, da mesma idade que você, que frequentam seis aulas iguais as suas, deveria? Bom, de qualquer forma, ele estava errado. Ele era um pesadelo, certamente. Um dos maiores e mais assustadores, admito. Mas não era o pior deles.

Eu sabia que Harry e seus amigos eram capazes de muita coisa. Regras escolares não significavam nada, eles podiam facilmente esperar simplesmente o horário da saída, afinal, não podem ser punidos pelo que acontece fora da escola. Além do mais, não era como se essa cidade fosse grande o suficiente para não ter o risco de sair para o shopping ou para uma pista de skate e encontrar o clã do Harry lá. Acho que esse podia ser considerado um dos motivos pelos quais eu quase nunca saía sozinha. A não ser quando era para correr, mas na maioria das vezes eu deixava isso para fazer de noite, mais ou menos naquele horário que ninguém em sã consciência estaria andando pelas ruas.

Ele passou tirou uns fios de cabelo rebeldes do meu rosto e sorriu, virando as costas e desaparecendo pelo corredor com as mãos nos bolsos frontais da calça, enquanto eu estava ainda tentando respirar normalmente, com suas palavras ecoando na minha cabeça. ''Nos vemos na aula, Cassie.'' Respirei fundo e arrumei minha mochila sobre os ombros. Ele fazia eu congelar. Não, com certeza não deveria teme-lo. Mas temo porque ele expõe todas as minhas falhas, que tento ignorar. Temo porque ele faz questão de me lembrar da insignificância da minha existência, temo porque ele pode me dar uma surra pior a qualquer momento. Fechei o armário, colocando o código e fui para minha primeira aula do dia. Que, pelo visto, seria muito, muito longo.

       . . . 
Suspirei, encarando a porta vermelha. Podia ver a mesa do professor da segunda aula pela pequena janela acima da maçaneta, engoli em seco e empurrei a fechadura, adentrei a sala e aproveitei que ela estava vazia para me sentar lá no fundo, na última carteira do canto, onde ninguém iria me ver.

- Argh, minhas esperanças de ter um dia legal no colégio foram para o Espaço de novo. - ouvi a voz de Nevaeh em um tom rude, mordi o lábio, sabendo que se tratava de mim. Eu já tinha ouvido falar que era normal isso, de os ''populares'' escolherem um alvo para atacar e se divertir apontando todas as falhas de tal pessoa, mas até a vida me odeia, então decidiu que boa parte dos populares escolhessem o mesmo alvo. E, sinceramente, eu deveria estar parecendo um queijo, porque eles eram muito bons de pontaria. 

A quem eu quero enganar? Eles só estão falando a verdade. É melhor do que serem mentirosos, pelo menos. Mas, mesmo assim.. Só uma vez bastava, não? Porque precisam dizer isso todos os dias? Eu estou tão cansada disso. Quero dar um fim a toda essa dor, todo esse tédio que já faz parte de mim. Nunca melhora, nunca para... Só piora, e sei que vai continuar piorando cada vez mais. Eles só estão falando a verdade, embora de um jeito bem cruel. A verdade nua e crua sempre dói. Gostaria de poder ter uma máquina desmaterializadora molecular agora. Eu apontaria ela para mim mesma e desapareceria para sempre. Seria o melhor para todo mundo. 

- Amber veio hoje? Aquela ruiva está sempre faltando, meu Deus! - ouvi a voz de Harry e me encolhi mais no canto. Aquela história não parece verdade, mas é. A união faz a força e se separados já me deixam em cacos e hematomas, bem... Juntos, então...

Por que eu não morro logo? Tem tanta gente boa, amante da vida, morrendo por aí e eu aqui... Me rastejando pelos meses, anos... Contando em um calendário ansiosamente os dias, riscando cada um deles quando estes chegam ao fim. Nem a morte deve querer me ter com ela, por que ela não me leva? Tem tantas opções para ela me levar embora desse maldito lugar, acidente de carro, afogamento, pípulas, câncer, homicídio... Mas se bem que, se eu pudesse escolher... Querida Morte, se estiver ouvindo isso, por favor me leve. Mas, se possível, não deixe que seja através de uma queda de avião, não quero que outras pessoas morram antes de suas horas por minha causa. Não. A última coisa que quero é ter culpa até na hora de morrer, por matar os pais de crianças indefesas que necessitam deles. E nem por um estupro. Porque, bom, é muito aterrorizante. Mas acho que de resto, pode escolher qualquer uma. Só me leve o quanto antes. Tenha piedade, eu não aguento mais. Por que deixar viva uma pessoa que não acrescenta nada à vida de ninguém? Eu posso desaparecer para sempre e ninguém irá se importar e nem notar. Quero dizer, sim, tem uma pessoa que irá notar. Harry Styles, você deve conhecer. Mas tenho certeza que ele irá conseguir arrumar outra coisa para fazer ou arranjar um novo alvo. A qualquer momento que quiser, de preferência, agora. Com carinho, Ca...

- Cassie! - levantei a cabeça da mesa rapidamente, olhando em volta. Todos os alunos da sala já tinham chegado e olhavam para mim, inclusive o trio do pesadelo. Me encolhi na minha carteira, vendo que o professor me chamava da frente da sala. - Meu Deus, srta. Miller! Todo os dias eu tenho que ficar chamando sua atenção. Você é uma aluna tranquila mas passa mais tempo flutuando pela Lua do que na Terra. - repreendeu com a voz calma, e todos os alunos ainda prestavam atenção em cada movimento meu. Por um acaso, tentando achar outra coisa para olhar que não fosse a cara do professor pedindo por uma explicação, encontrei Harry me olhando com as sobrancelhas arqueadas e expressão séria. Que ótimo...
- Me desculpe. - sussurrei, muito baixo. Mas ele assentiu do mesmo jeito, já até sabia minha resposta, era o que eu falava todo dia.
- Então, pessoal - chamou a atenção de todos, que desviaram sua atenção finalmente de mim e olharam para ele - Hoje teremos uma aula diferente. Eu convidei uma nutricionista amiga minha para conversamos com vocês sobre... - levantei a mão antes de ele terminar. Ele olhou para mim e franziu a testa, talvez por eu nunca levantar a mão.
- Posso ir ao banheiro?
- Mas srta. Miller, a aula acabou de começar e...
- Por favor, professor. Eu não estou me sentindo bem. - falei e ele suspirou, assentindo. Guardei meu material dentro da mochila, sabendo que quase todo mundo estava olhando para mim, as pessoas dessa escola amam um showzinho de horrores ou qualquer coisa assim. Passei entre as mesas e desviei da mesa de Harry, que era a mais próxima da minha, logo já estava do lado de fora da sala. Fui direto para o banheiro feminino do colégio.

Não conseguia tirar um minuto da cabeça o fato de ter comido aquilo tudo ontem. Aquilo martelava na minha cabeça e estava sempre ali, mesmo que eu tentasse desviar os pensamentos. Eu fui fraca e tenho que me punir, tenho que aprender o que se chama auto-controle. Sim, esse é o ponto. De frente para o espelho, já estava ofegando. Desesperadamente, coloquei minha mochila emcima da pia grande de mármore e com as mãos trêmulas, procurei pelos meus remédios. Achei um potinho cilíndrico amarelo bem no fundo. Sorri. Abri e coloquei os últimos dois comprimidos na mão e deixei o potinho na pia. Peguei um pouco de água da torneira mesmo e tombei a cabeça para trás, jogando os comprimidos. Em seguida, a água. Fiz careta, tentando engolir.



Odeio tomar remédios, sempre é um sacrifício para engolir. Mas eu mereço isso, se não tivesse me descontrolado não teria que tomar diuréticos. Fecho os olhos, me sentindo um pouco tonta e sinto os pêlos dos meus braços se arrepiarem. Yep, eu odeio tomar remédios. Lavei meu rosto e passei a mão no cabelo, que estava meio bagunçado, embora ele pareça um emaranhado quase sempre. Peguei minha mochila e ia sair do banheiro, quando ouvi vozes. Paralisei alguns instantes, pensando se me escondia ou não. Senti a maçaneta girar contra uma das minhas mãos. Tarde demais.

- Amber só pode estar aqui! E eu prometi a mãe dela que iria lembra-la de tomar os remédios para dor de cabeça. - ai, merda. A porta foi aberta e Amelia me encarou, enquanto eu tentava fazer meus pés se mexerem, foi impossível não olhar para o lado e ver Harry ali. Duplamente merda.
Passei pelo lado de Amelia encolhendo os ombros, já esperando que ela falasse algo, mas ela nada disse e eu pude sair finalmente.

A garota com cabelos cacheados parou na frente do espelho e sorriu para o próprio reflexo, ao que Harry revirou os olhos. 
- Sinceramente, você é linda Amelia, não é como se precisasse olhar no espelho de cinco em cinco minutos para confirmar isso. - o garoto riu atrás dela, colocou as mãos nos bolsos da frente e a cacheada virou a cabeça para o lado, um sorriso emoldurado pelo batom sangue. 
- Só para confirmar, Meu Espelho. - soltaram risinhos fracos pela piada e suspiraram, como se lembrassem o motivo pelo qual estavam ali. Amelia checava cada uma das portas, empurrando-as enquanto o garoto subia em cima dos vasos sanitários para ver a cabine vizinha por cima da divisória. 
- Será que a mãe dela veio buscar ela? - Harry saiu da última cabine. Amelia suspirou, não sabendo a resposta. O garoto bufou vendo o estado dos cabelos, tão rebeldes, tão difíceis de domar... Pegou um pouco de água e molhou um pouco e arrumou tudo para trás. 
- Está parecendo um mauricinho. - Amelia riu e o garoto soltou um muxoxo para ela, sacudindo o cabelo como um cachorro perto da garota de propósito, ao que ela soltava uns gritinhos e risadas tentando se proteger. - HARRY! - repreendeu ainda rindo, mas ele não mais a acompanhava. Pousava o olhar sobre a pia, onde um pequeno potinho despertava sua curiosidade. Franziu as sobrancelhas enquanto a parceira de busca retocava o delineador do outro lado do banheiro, próxima à saída. Checou o que ela fazia mais uma vez e olhou furtivamente para o pote, aproximando-o do rosto. Estava vazio. 
- Vamos Harry, o professor já estava desconfiado da gente. Se demorarmos vai achar que a gente estava se pegando por aí. - o garoto fez uma careta. Pensava que seu professor devia estar a muito tempo na seca, já que via malícia até mesmo onde não tinha. 
Sem mais tempo para investigar o objeto intrigante, guardou-o no bolso rapidamente para que a apressada não visse e ela deu-lhe um sorriso, apoiou os braços por cima dos ombros do mais alto, caminhando para fora. Saindo lado a lado do banheiro feminino, um flash atingiu o garoto de blusa xadrez vermelha e preta. Não era Cassie Miller a única garota ali, que já estava saindo, quando chegaram?  


Já estava sentada na minha mesa, reescrevendo minha metas do dia enquanto o professor explicava alguma coisa para a turma. A tal nutricionista ainda não tinha chegado. Levantei o olhar quando a porta rangeu e Amelia e Harry entraram na sala e se sentaram em seus respectivos lugares, que por macumba da ironia, eram próximos de mim, o que fez eu me encolher na cadeira e ignorar as conversas e risadas que eles davam com seus amigos.
Olhei para minha meta de calorias e soltei um suspiro. Acho que se alguém soubesse como me sinto quando olho-me no espelho, diria que sou superficial. Mas essas pessoas com certeza são lindas, inteligentes, promissoras e felizes consigo mesmas. É fácil falar quando você é lindo, é muito fácil especular quando você não sabe qual é a sensação. Mas eu diria a essas pessoas como é. É simplesmente horrível. É horrível você não ver nada de bom em si mesmo, nada de que possa se orgulhar, nada que te faça se sentir bem. É simplesmente horrível perceber que não se tem um motivo para viver, que não tem nada para se orgulhar e se aprimorar em tal coisa. Tipo um talento ou coisa parecida. É terrível ouvir as pessoas dando opiniões sobre você, opiniões que você nem mesmo pediu. Elas falam de você como se você não estivesse ali para ouvir, mas você está, embora desejasse não estar, mesmo. Elas se acham tão melhores apontando as falhas dos outros.

Eu tenho que mostrar que posso ser melhor do que sou agora. Tenho que mostrar que também posso me aprimorar em algo. Tenho que mostrar que elas estão erradas, que também tenho algum valor. Eu quero muito, muito, muito que elas parem de falar de mim. Quero calar as vozes delas na minha cabeça quando estou indo para a cama, quero excluir da minha memória seus olhares julgadores, presunçosos e insinuadores na minha direção. Ter uns quilinhos a mais não deveria ser tão errado, deveria? Eles poderiam aceitar isso, tornaria tudo mais fácil. Mais fácil para mim, que quero apenas me olhar no espelho e me sentir bem. Que detesto ter que ouvir calada os comentários "inocentes" dos amigos da minha mãe e do resto das pessoas por aí e ainda ter que forçar um sorriso.

Eu não vou aguentar por muito mais tempo. Olhei disfarçadamente para os lados, com o leve pressentimento de ter alguém me olhando. Eu não vou aguentar por muito mais tempo. Ouvi risadinhas dos outros amigos de Harry. Quero enfiar uma faca no meu peito e assistir a ''vida'' saindo de mim a facadas. Senti uma bolinha de papel atingir a lateral da minha cabeça. Eu não vou aguentar por muito mais tempo. Senti meus olhos arderem. Eles nunca me deixarão em paz? Os chiados no meu ouvido ficaram mais altos e ao mesmo tempo abafados, todas as vozes falando ao mesmo tempo, eu não conseguia distinguir o que diziam. Mas eu ouvia. E eu queria entender o que diziam. Acho que isso nunca vai passar. Sentia uma mão esmagando meu coração. Porque apesar de tudo, eu sei que preciso da opinião deles. Tudo parece estar errado até alguém me dizer que está certo. E eu tento, tento, tento.. Mas nunca está certo. É um círculo vicioso. Nunca vai parar. Era dolorido, sufocante, devastador... Era uma tortura, mas se for assim, eu tenho um pequeno lado masoquista. Porque sei que eles não me deixarão em paz até estar bom. Mas quando irá ser o suficiente? Só preciso que me digam isso. Me digam quando será o suficiente! Porque estou tentando agradá-los mas nada parece dar certo. Nunca é o bastante, eu sempre estrago tudo. Me digam, me digam, me digam! O que eu tenho que fazer? Apenas isso. Me falem o que querem e vou fazer, contanto que me deixem em paz depois disso. Contanto que as vozes sumam, contanto que eu possa deitar e conseguir dormir ao invés de escutar risadas nos meus ouvidos durante toda a noite, contanto que eu possa acordar pelo menos um dia da minha existência e não sentir uma falta de ar devastadora, um peso tentando me impedir de sair da cama para enfrentar o mundo lá fora... Porque eu não sou tão forte assim. Poderia aguentar tudo isso, mas não sou forte desse jeito. E eu não vou aguentar por muito mais tempo. 

- Vamos falar sobre diabetes. Apresento a vocês, minha amiga dos tempos do Colegial, Anna Lu Chase. - abri meus olhos. O professor bateu alguns aplausos ao que uma mulher entrou na sala sorrindo para a turma. Puxei o ar pela boca, para fazer o nó na minha garganta se dissipar e engoli em seco, tentando prender a vontade de chorar.
- Diabetes? Vamos falar sobre doenças? Isso não faz nenhum sentido. - Rony, no fundo da sala, fez careta.
- Querido, isso é aula de sociologia. Se eu quiser posso falar até do frango do Nando's. - o professor sorriu ironicamente e a sala explodiu em risadas e alguns assovios debochando de Rony.

Depois de alguns minutos, com a minha pessoa rabiscando minha meta de calorias no bloco de post-it's e ouvindo as conversas do Styles e Lucy ao meu lado, a tal da Anna Lu falava sobre coisas que pessoas que tem diabetes costumam fazer para deixar os negócios lá que não me lembro em níveis normais. Então ela parou de falar, olhando para o fundo da classe.
- Diabéticos contam calorias? - olhei para a esquerda, onde eu podia ver todo o fundo da sala e era Harry quem tinha levantado a mão e perguntado. Franzi o cenho de imediato. Surpreendente. Eu não sei o que me impressiona mais: se é ele estar focado na aula ou ele ter levantado a mão para falar. Acho que por eu estar o fitando, ele se virou para mim rapidamente, ainda com a mão no alto. Senti meu corpo estremecer levemente e voltei o olhar para a nutricionista, que deu um sorriso por ele se mostrar interessado.
- Sim, pessoas que sofrem de diabetes frequentemente fazem isso e estabelecem metas de calorias que podem ingerir para não desestabilizar os níveis de glicose no sangue. - ela lhe lançou um sorriso doce.
- Então a Cassie tem diabetes? - congelei ao ouvir meu nome ser dito em voz plenamente alta e me virei abruptamente para o garoto cacheado, que apontava para mim com o dedo. Não que fosse necessário, já que todos, inclusive a médica, me lançavam olhares - que não consegui definir-. Todos.
Heey! Finalmente voltei. Como eu disse, postarei bem mais frequentemente agora. Ainda mais agora que desativei o Piece Of Paper, tenho mais tempo. :) Eu sei que o cap ficou big enorme, mas eu acho que isso é de mim, mesmo. Sei lá. Gosto de dar detalhes, sinto que assim dá para vocês imaginarem as cenas melhor. Dá para imaginar? E o que vocês acharam de saber mais como a nossa pequena Sweet Cassie se sente? E o que acharam do cap? Estou muito animada para os próximos capítulos. Até a próxima. Xoxo.




2 comentários :

  1. Saudades da Cassie e seus pensamentos autodestrutivos ♥
    Eu a considero super forte e tem uma força de vontade imensa -porque se fosse eu o Harry levaria uns bons tapas na cara- para aguentar o nosso 'queridinho' Harry Styles e sua turma.
    Isso tudo só pode ser amor ou inveja porque ninguém persegue alguém por simplesmente achar divertido -eu acho.
    Amo o jeito que você detalha as cenas, eu gostaria de poder ser assim mas, nunca consigo. Deve ter uma barreira que me impede de algum modo.
    Esperarei ansiosamente pelo próximo cap.!
    xoxo.

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    1. ♥ Eu também, não deixaria barato, não u-u. A Cassie já tentou, mas digamos que não deu muito certo. Sim, aja paciência. Eu já tinha tatuado minha mão na cara da Amelia. ¬¬
      Hmm, não sei. Ele realmente enche o saco, mas já vi uma menina na sexta série que era muito zoada, tipo, ela era quase inexistente na sala e as hienas riam como tivessem sob efeito de gás hélio. ~Eles já chegaram a me zoar, mas eu meti todo mundo na diretoria kkkkkkk u-u~
      *^* Fico feliz que goste e não se incomode com isso. Eu gosto do jeito que você escreve ♥
      Não vai demorar para sair ~^w^~
      Xoxo.

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